terça-feira, 14 de setembro de 2010

Espiritualidade no Século XXI

Queridos, estaremos postando um estudo dirigido pelo nosso professor Rodrigo Pinheiro. Atualmente Rodrigo leciona na disciplina de Ética. Formado no Seminário do Sul é Pastor,
Filósofo, Teologo e Mestre!


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Introdução

O tema desse breve artigo pode causar reações diferentes em quem o lê. Isso porque o tema Espiritualidade é ambíguo e, dependendo de onde se parte o pensamento, esse termo Espiritualidade no Século XXI é um erro. Isso porque, para alguns, espiritualidade é a mesma coisa, independentemente do tempo em que estamos. Nesse sentido, a espiritualidade está aí para combater as heresias deste século, tão plural em suas questões e cheio de novidades para a agenda moral.

Partimos do princípio de que espiritualidade é o encontro do Sagrado com o homem em seu mundo num determinado tempo da história. Como tudo que se encontra exige uma postura diante do objeto ou sujeito encontrado, na espiritualidade acontece o mesmo.

O homem encontra-se com Deus dentro de sua existência – e qual é o sentido da existência? –, que está permeada de experiências de prazer e sofrimento, diante de outras pessoas que passam por outras experiências diante do mesmo mundo e da mesma história. Espiritualidade, então, parte de algumas definições básicas: o que é o homem, quem é Deus, o que é o mundo e o que é a história? Responder essas perguntas – ou pelo menos tentar responder – é preparar as bases de nossa espiritualidade para vivenciá-la.

Não vamos, no entanto, aprofundar nenhuma questão aqui. É um artigo breve. Tampouco vamos abordar todos esses parâmetros da espiritualidade, pois esses apresentam novas subdivisões o que tomariam muito mais trabalho e prolongamento.
O que pretendemos aqui é simplesmente definir espiritualidade e suscitar o interesse em pesquisar e debater o tema.

A Antropologia Agostiniana

Agostinho de Hipona (354-430) influenciou profundamente a teologia cristã, inclusive os reformadores. Deus como Summa Essentia – Ser Supremo – é sempre o oposto do ser humano, este depravado desde o pecado de Adão, não pode sequer fazer o bem senão pela graça divina. Para Agostinho, já nascemos com o pecado em nós e não precisamos aprender a pecar porque já estamos encaminhados naturalmente por ele. Em seu livro Confissões ele conta grande parte de sua vida desde a infância e faz observações aguçadas sobre o homem:
Certa vez vi e observei um menino invejoso. Ainda não falava, e já olhava pálido e com rosto amargurado para o irmãozinho colaço. (...) mas se poderá considerar inocência o não suportar que se partilhe a fonte do leite, que mana copiosa e abundante, com quem está necessitado do mesmo socorro, e que sustenta a vida apenas com esse alimento?

Também ele, na infância, tinha roubado peras, não pela necessidade, mas pelo furto em si, pois ele mesmo tinha frutas melhores. No entanto, nas imediações de nossa vinha, havia uma pereira carregada de frutos, que nem pelo aspecto, nem pelo sabor tinham algo de tentador. Alta noite (...) dirigimo-nos ao local, eu e alguns jovens malvados, com o fim de sacudi-la e colher-lhe os frutos. E levamos grande quantidade deles, não para saboreá-los, mas para jogá-los aos porcos, embora comêssemos alguns; nosso deleite era fazer o que nos agradava justamente pelo fato de ser a coisa proibida.

Agostinho é influenciado então pelo neoplatonismo, onde havia a ambigüidade entre alma e corpo, com a diferença de que nesse sistema filosófico, a alma tem sua tendência para o alto enquanto em Agostinho, ela também está contaminada pela sedução deste mundo e pelos sentidos do corpo. Para resgatá-la é necessário que se busque em Deus forças para vencer a carne e acalmar a alma Nele.

A teologia agostiniana é muito forte na igreja em suas várias expressões de espiritualidade. Na verdade, muitos cristãos não sabem que na base de sua confissão está o pensamento de Agostinho, principalmente no círculo evangélico, por se pensar que este autor é um teólogo católico romano, o que é também um desconhecimento da história da igreja.

De qualquer forma, o que vale observar é que em Agostinho encontramos essa base dualista, onde o homem está lutando para se entregar a Deus, pois não precisa se esforçar para o caminho pecaminoso, por onde somos naturalmente guiados.
É claro que sua influência em outros autores, não quer dizer que ele tenha sido seguido em toda a sua estrutura teológica ou mesmo que tenha sido compreendido. Poderíamos citar vários outros, mas basta-nos dizer que em todas as denominações protestantes e evangélicas há influência deste grande pensador, mas é óbvio que ele foi contextualizado, ou em outros casos, deturpado.

É importante dizer que Agostinho não havia criado um sistema que condenasse a beleza ou o prazer em si, mas a intemperança. Mas se ele não condena nem um nem outro, certamente olha sempre com desconfiança para ambos. Essa desconfiança é algo que se perpetua na teologia e que em sua expressão mais profunda gerou o que conhecemos como fundamentalismo.

O fundamentalismo como movimento surgiu no século XIX, mas foi entre 1909 e 1915 que professores de teologia de Princeton publicaram uma coleção de doze títulos com o título Fundamentals. A Testimony of the Truth. Nesses artigos, fica clara a desconfiança com a modernidade, não só tecnológica, mas também filosófica e, principalmente, teológica.

O fundamentalismo é um dualismo, uma forma de olhar unilateralmente a vida com as lentes doutrinárias. Nessa batalha o princípio que gera essa divisão é a desconfiança a tudo que é diferente, novo e prazeroso. A espiritualidade passa a ser baseada na negação dos desejos do corpo, da modernidade e de qualquer elemento que não seja conhecido e vivenciado no passado. A negação desses elementos é a afirmação de uma vida com Deus, ou seja, de uma espiritualidade inclinada às afirmações doutrinárias que já estão estabelecidas. Esse tipo de espiritualidade é mais comumente encontrada nas chamadas igrejas históricas.
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Você não pode perder, fique ligado neste estudo!!
Cenas para o próximo capitulo:Espiritualidade e Triunfalismo

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